Jardim e Casa dos Saberes Ancestrais foram inaugurados no último dia 12

Texto: Maria Luiza Robles Arias I Edição: Gabriela Villen I Fotos: José Irani

Na última sexta-feira (12), a Diretoria de Cultura (DCult) da Pró-reitoria de Extensão e Cultura (ProEC) da Unicamp participou da abertura de um novo espaço de convívio na universidade: A Casa dos Saberes Ancestrais. O evento começou na Faculdade de Educação (FE) e depois, em cortejo, os presentes se dirigiram à Casa onde a cerimônia foi encerrada. Além da Casa, também foi inaugurado o Jardim dos Saberes Ancestrais, que fica localizado na FE, realizado também com apoio de edital da DCult.

A ideia para a criação da Casa surgiu a partir de um sonho, como conta Malu Arruda, professora colaboradora da FE. “Existiu, então, esse sonho de termos um espaço de troca de saberes aqui na universidade, de uma maneira não hierárquica, ou seja, diferente das nossas salas de aula. E quem traz isso para a gente são os povos ancestrais. Nos seus espaços, indígenas, quilombolas e outros, eles se organizam em uma grande roda para realizarem conversas. Então, esse era o nosso sonho, um espaço de troca de saberes. O que fizemos foi reunir pessoas que já estavam envolvidas em causas indígenas aqui na Unicamp e conversar com lideranças indígenas, para ver se nossa ideia fazia sentido. Nesse processo, foram chegando alunos envolvidos com a questão das cotas étnico-raciais e com outras pautas. A partir daí, a gente foi construindo isso coletivamente”, contou Malu.

Malu Arruda, professora colaboradora da FE, acompanha o projeto desde quando ainda era apenas um sonho

O Jardim, inaugurado no mesmo dia, é parte do mesmo projeto, mas é uma iniciativa mais recente. O objetivo desses espaços, para além das trocas que serão realizadas neles no futuro, é gerar nas pessoas que o frequentarem a sensação de pertencimento. É um espaço de reafirmação, que simboliza a resistência dos povos ancestrais. “Esse lugar não é só importante para nós, como Diretoria de Cultura, ou Pró-reitoria de Extensão e Cultura. Esse espaço é importante para a Universidade como um todo. É um espaço de cultura, de ancestralidade, de memória. Esse projeto mostra a diversidade que a gente tem nesse país e como podemos vivenciar essas experiências e ficar juntos de todos. Acho que isso é o mais importante em relação tanto ao Jardim quanto à Casa dos Saberes Ancestrais”, ressaltou Cláudio Lima Ferreira, coordenador adjunto da DCult e no ato representando o pró-reitor de Extensão e Cultura.

Cláudio Lima Ferreira é coordenador adjunto da DCult-Proec

A cerimônia foi marcada por apresentações, falar e práticas culturais dos povos ancestrais que estavam presentes. Povos esses que ajudaram, com as próprias mãos, a construir o Jardim e a Casa dos Saberes Ancestrais. Curiosamente, como brinca Malu Arruda, ambos os espaços ficaram prontos no mesmo dia, 12 de dezembro de 2023, e por isso foram também inaugurados juntos. 

O Jardim dos Saberes Ancestrais fica localizado na FE, foi realizado com apoio de edital da DCult.

A perspectiva é que esses espaços sejam ocupados e multiplicados dentro da universidade e que eles possam servir de espelho para a nossa sociedade. “Esses lugares são uma semente de utopia. Um anúncio e um alerta de que um novo modelo societário é possível e de que nós, seres humanos, somos capazes de construí-lo e somos responsáveis por fazê-lo. Um modelo que tenha por objetivo não mais o acúmulo de capital e o progresso baseado na exploração dos seres humanos e na devastação do planeta. […] Uma nova civilização que supera o individualismo e a meritocracia”, ressaltou Rene José Silveira, diretor da FE.

 

Como o sonho começou

A Casa dos Saberes Ancestrais é um projeto de longa data da ProEC, como conta Carolina Cantarino, professora da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e ex-coordenadora adjunta da DCult. “A história da DCult se mistura com a própria história da Casa. Foi na primeira gestão da DCult que esse sonho nasceu e ele foi passando, de gestão em gestão. Sendo sonhado coletivamente por várias pessoas”, contou Carolina. “A gente conseguiu concretizar, por meios institucionais, esse projeto que veio lá de trás e que nós passamos adiante também até chegar no dia de hoje”, completou Cacá Machado, professor do Instituto de Artes (IA) e ex-diretor da DCult ao lado de Carolina.

O projeto da Casa dos Saberes Ancestrais foi originalmente concebido como Projeto Oca, no ano de 2017. Após inúmeras conversas com pessoas de dentro e de fora da universidade, entendeu-se, como explica Malu, que nem todos os povos ancestrais usavam a palavra Oca e, por essa razão, o nome do projeto foi mudado para que se tornasse mais abrangente.  A partir daí, mais e mais pessoas começaram a se envolver no projeto e, o que era um sonho, foi se tornando realidade.

Em 2020, algumas pessoas envolvidas na iniciativa concentraram forças na escrita de dois livros que contassem a história da Casa. O primeiro deles, publicado em 2020, chama-se Casa dos Saberes Ancestrais – Diálogos com Sabedorias Indígenas. Já o segundo, publicado em 2021, recebeu o título de Casa dos Saberes Africanos – Diálogos com Sabedorias Africanas e Afro-americanas, Esses livros foram publicados como parte da Coleção Jurema. 

Um sonho que durou tanto tempo em decorrência da sua pertinência por ser um espaço de reafirmação e resistência. “Esse espaço tem uma história. E nós não podemos esquecer ou deixar de contar essa história”, relembrou Cláudio. 

Para saber mais sobre a publicação dos livros, acesse: https://www.dcult.proec.unicamp.br/casa_saberes

 

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