Sofrimento mental e suicídio relacionados ao trabalho é tema dos Fóruns Permanentes da Unicamp

Texto: Maria Luiza Robles Arias e Gabriela Villen  |  Fotos: José Irani

 

Na última quarta-feira (20), o Centro de Convenções da Unicamp. recebeu mais uma edição dos Fóruns Permanentes, desta vez com o tema: “Sofrimento Mental e Suicídio Relacionados ao Traballho”. Os Fóruns, que este ano completam 20 anos, são eventos interdisciplinares realizados pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) da universidade e têm como objetivo promover a aproximação entre o pensamento acadêmico e a sociedade. 

 

“O objetivo é trazer o trabalhador para ter fala, não só na sua singularidade, mas também na sua coletividade, representado por seus sindicatos, que compõem essa rede e contribuem para florescer em todos os espaços”, afirmou Cathana Freitas de Oliveira, pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Saúde e Trabalho (Ester) do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), representante da rede Margarida e organizadora do evento. “É muito importante trazer esse tema para debate e criar, a partir disso, redes acolhedoras onde as pessoas cuidem umas das outras e que possam também, como faremos hoje, buscar soluções conjuntas”, acrescentou.

 

Para o pró-reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho, que participou da mesa de abertura, o tema deste Fórum foi de singular importância. “Todos os Fóruns trazem temas importantes, mas alguns são ainda mais urgentes do que outros”, afirmou. “É isso que a gente busca enquanto Unicamp: estar cada vez mais próximo da comunidade, trazendo para a dentro da universidade as discussões que são fundamentais e que permeiam a sociedade brasileira. Essa é a nossa obrigação”, completou. 

 

Conforme ressaltou a coordenadora do Departamento de Saúde Coletiva da FCM, Rosana Teresa Campos, a saúde mental de trabalhadores e trabalhadoras é uma questão de saúde da comunidade. “O campo da saúde coletiva é um campo que pretende se encontrar com a sociedade e não ficar reclusa nos hospitais. E não é possível começar a pensar nessa questão da saúde do trabalhador se a gente não fizer isso com o trabalhador. Então esse momento para a gente é precioso”, afirmou.

 

Como estamos enfrentando?

 

Os debates começaram com uma avaliação da situação dos trabalhadores. José Paulo Porsani, membro da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa em Ciência e Tecnologia, expôs pesquisa realizada pelo Sindicato, a respeito da relação entre trabalhadores e local de trabalho. Segundo ele, os resultados mostram o nível de insatisfação dos funcionários e como esse resultado negativo pode ser prejudicial. Porsani também contribuiu com o debate ao trazer a vivência de Lidiane Lucindo de Moraes, uma mulher negra e ex-membro do sindicato. Ela juntou-se à causa da saúde mental dos trabalhadores após sofrer esses problemas na pele. “Temos nossa saúde mental negligenciada pelas empresas”, ressaltou Porsani o que a colega costumava dizer. Após sua morte este ano, o sindicato criou o Projeto de Saúde Mental Lidiana Lucindo Moraes, “uma iniciativa que visa resgatar a luta da companheira Lidiana em defesa dos trabalhadores que enfrentam problemas de saúde mental no local de trabalho. […] Neste projeto nós desenvolvemos e promovemos discussões a respeito dessa questão da saúde mental e do estresse do ambiente corporativo”, disse Porsani. 

 

Maria Edna, membro do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações,  emocionou-se ao compartilhar suas experiências e vivências dentro do setor de telecomunicações: “É muito complicado falar de saúde e do setor de telecomunicações sem me emocionar. Por isso meu trabalho de TCC foi muito gratificante pra mim, porque com ele eu consegui não só ficar sentada e ouvir, mas também agir para pensar o que eu posso trazer de melhoria para esses profissionais”.

 

Alex Douglas, membro do Sindicato dos Condutores de Ambulância do Estado de São Paulo, condutor de ambulâncias, também revelou os desafios que enfrenta no dia a dia e da luta diária pela saúde dos trabalhadores e melhoria nas condições de trabalho destes. “A gente briga constantemente com o empregador por melhores condições, mas eles têm essa ação de ir pra cima e fazer a prática antissindical de nos ameaçar e dizer: se você for lá no sindicato, você tá fora [demitido]”, pontuou ele. Alex contou também sobre como a pandemia foi traumática e deixou sequelas na saúde mental de seus companheiros de profissão: “Durante a pandemia, nós não paramos. Demos nossas vidas para salvar as de muitos. Andávamos pra cima e pra baixo com pacientes com o vírus ali, no nosso cangote. E mesmo assim, não fomos e ainda não somos valorizados nem reconhecidos. Somos sempre deixados de lado”.

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