O lugar da extensão na universidade esteve em debate na II Mostra de Extensão da Faculdade de Ciências Médicas 

Texto: Gabriela Villen  I   Fotos: Marcelo Oliveira/ARPI

 

Trazer a extensão universitária para o centro do debate. Trocar experiências com quem já faz extensão e mostrar, para quem ainda não faz, que não é um bicho de sete cabeças. Evidenciar o quanto a extensão é transformadora para todos os envolvidos e as oportunidades que ela abre. Essa foi a proposta da II Mostra de Extensão da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, que aconteceu entre os dias 7 e 8 de novembro, na FCM. A programação contou com espaços de trocas de experiências, exibição de pôsteres, debates e manifestações artísticas. “O que estamos fazendo aqui é democracia”, afirmou Rubens Bedrikow, coordenador de extensão da FCM e organizador do evento. 

“Quando falamos de extensão, não deixamos de falar sobre o ensino e pesquisa, porque trabalhamos numa lógica de indissociabilidade entre os três. A extensão, por ser a missão da universidade que mais conversa com os outros setores da sociedade, ela aproxima também as outras missões (pesquisa e ensino). A gente traz a voz das pessoas, através dessa interação dialógica da universidade com outros setores”, afirmou explicou Bedrikow.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho, ressaltou a relevância da extensão realizada pela FCM. “A Faculdade de Ciências Médicas é sem dúvida nenhuma é uma das unidades da universidade que mais faz extensão. Ela tem pessoas, professores, estudantes e funcionários, que fazem aquilo que a gente considera que é a extensão que uma universidade como a Unicamp deve fazer. Uma extensão que dialoga, uma extensão que respeita. É uma extensão que transforma não só o aluno, também transforma a comunidade que está envolvida”, afirmou.

Para Coelho, a extensão deve ser entendida como “o braço político do ensino e da pesquisa”. “É ela que traz para a universidade as demandas da sociedade. É por meio da extensão que eu fortaleço o laço entre a sociedade e a universidade e também o laço de sustentação política da Universidade”, defendeu.

Da mesma forma, o diretor associado da FCM, Erich Vinicius de Paula, defendeu a extensão como peça chave para a perpetuação institucional da universidade. “Como é que a universidade consegue se manter como uma das instituições, como a igreja, que dura tantos séculos, apesar de todos os desafios? E foi comentado que ela sempre foi um lugar onde se podia fazer alguma coisa que não se podia fazer fora dela. Quando eu ouvi isso, eu fiquei pensando, o que a gente faz hoje aqui que não é feito fora? O ensino, a transmissão de conhecimento, é muito qualificada aqui, mas ela acontece de outras maneiras. A pesquisa também é feita com muita qualidade, principalmente dentro da universidade, mas é feita em outros espaços. Talvez, o nosso grande diferencial, daqui para frente, seja transferir de uma forma transformadora para a sociedade, de uma forma que a gente consiga continuar a ser relevante, consiga continuar tendo apoio lá fora e durar muitos séculos”, refletiu.

 

Curricularização da extensão ou extensionalização do currículo

O processo de integração da extensão aos currículos de graduação foi o tema debatido pela primeira mesa, que contou com a participação do coordenador de Graduação em Medicina da FCM, Fábio Hüsemann Menezes; da gerente de Extensão da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), Vera Lúcia dos Santos Plácido; da coordenadora do eixo de extensão do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Botucatu da UNESP, Jacqueline Teixeira Caramori; e Rafael Pereira Moreira da Silva, aluno extensionista da FCM; além de Fernando Coelho e Rubens Bedrikow, que mediou o debate.

A professora da PUCC fez uma provocação, propondo o uso de “extensionalização do currículo” ao invés de “curricularização da extensão”. “Estamos aqui porque acreditamos que a extensão tem uma forma própria de acontecer. Essa troca, esse diálogo de saberes. Aqui nós produzimos um conhecimento sistematizado. Mas aonde vamos, as comunidades que atendemos, as comunidades que chegamos, elas também possuem um conhecimento. Há um saber institucionalizado lá, a partir das relações comunitárias, a partir das suas dores, das suas demandas. É nessa troca de saberes, é nessa ponte, que a extensão está. E quando falamos da curricularização da extensão, eu acredito, particularmente, que o correto seria falar extensionalização do currículo, pois nós estamos fazendo uma ressignificação do papel da universidade no território brasileiro, que sabemos bem é marcado por tantas desigualdades”, pontuou Vera Plácido.

A coordenadora da extensão da medicina da Unesp, por sua vez, levantou alguns dos principais desafios enfrentados nesse processo pela universidade. Segundo ela, um dos principais desafios enfrentados pelo curso de medicina foi a inserção da extensão no currículo com a manutenção da carga horária, que já alta. Outro aspecto destacado por Jacqueline Caramori foi a necessidade de formação dos docentes para extensão. “Considero que o engajamento dos professores é uma peça fundamental para o sucesso da extensão. Esse engajamento sai um pouco daquele habitual que o professor já tem, que é a sala de aula. Ele tem que se engajar em comunicação, tem que reconhecer esse letramento que ele vai levar de uma forma não de um saber isolado, mas aberto a trocas. E ele precisa levar a visibilidade dessas contribuições sociais para dentro da universidade. A troca precisa acontecer de fato. Talvez a gente precise preparar melhor a nossa docência para que ela entenda o seu papel dentro desse processo”, refletiu.

Em sua intervenção no debate, o pró-reitor contou sobre as estratégias que vêm sendo utilizadas pela Proec, em parceria com a Pró-reitoria de Graduação (PRG), para contribuir com o processo de curricularização da extensão na Unicamp. Segundo ele, há uma diversidade muito grande de familiarização com a extensão entre as unidades. Enquanto algumas estão estruturadas, com projetos consolidados, outras ainda manifestam dúvidas sobre o que seria a extensão universitária. “Essa diversidade nos faz caminhar para montar grandes programas institucionais. Primeiro porque eles podem atender uma demanda muito grande de alunos. E como são programas institucionais, eles não têm a cara de uma unidade. Além disso, eles são programas financiados pela universidade, eles têm recursos para garantir a perenidade”, destacou. “Temos que oferecer uma cesta de alternativas aos alunos que inclua programas e disciplinas, para que o aluno tenha disponibilidade para fazer a extensão dele em áreas diversas”, ressaltou.

Coelho defendeu ainda que as atividades de extensão devem ter o mesmo peso institucional que o ensino e a pesquisa. Para isso, precisam de reconhecimento acadêmico. “Precisamos da valorização das atividades de extensão nos relatórios de atividades de docência. É preciso ter esse tipo de reconhecimento. Eu preciso estimular a comunidade, garantindo que a atividade de extensão tenha o mesmo tratamento que as outras atividades”, afirmou.

 

Lançamento 

O evento contou ainda com o lançamento da versão digital do livro “Múltiplos Olhares sobre a Extensão Universitária na Vila Paula”, produzido pelos estudantes e docentes envolvidos na extensão na Vila Paula, nos últimos cinco anos. 

Rafael Pereira Moreira da Silva, que participou do debate, foi um dos autores do livro. Ele esteve presente no Programa de Extensão na Vila Paula e, agora, está engajado nas atividades que começam no Assentamento Milton Santos. Rafael destacou os impactos da extensão em sua vida pessoal e profissional. “A extensão tem um peso muito importante na nossa vivência como estudantes na área da saúde.  Não só na área acadêmica, mas na pessoal também. Na área acadêmica, a gente já sabe o quanto a gente desenvolve na questão de pesquisa e como profissional. Mas na questão pessoal o impacto também é muito importante”, explicou.

Para ele as atividades de extensão proporcionam uma vivência única. “A gente consegue interagir de uma forma mais pessoal, se colocar no lugar de uma forma mais poderosa. A gente consegue ter empatia de uma forma muito natural, porque a gente vê o que eles estão passando, o que estão vivendo e a gente consegue fazer uma troca muito muito profunda”, destacou.

“Na maioria dos cursos de graduação, nas diretrizes curriculares, a gente preconiza não somente que se forme simplesmente profissionais, mas profissionais engajados socialmente, éticos e com um olhar crítico para que está acontecendo no mundo ao redor dele. Eu acho que a extensão contribui para isso”, completou Bedrikow, que assina a organização do volume ao lado de Aline Messias Mota, ex-aluna da pós-graduação da FCM, Beatriz Soares Pires, aluna do Programa de Pró-graduação em Saúde Coletiva da FCM e Maria Filomena de Gouveia Vilela, professora doutora aposentada da Faculdade de Enfermagem (FEnf). O evento de lançamento oficial do livro será anunciado em breve.

Extensão no Samba

A abertura da Mostra contou ainda com o espetáculo musical do grupo “Extensão no Samba”, composto pelos professores da casa: Roberto Teixeira Mendes (violão e voz), Paulo Dalgalarrondo (flauta), Esdras Rodrigues (violino e rabeca) e Valter Valentin (contrabaixo)

Confira o vídeo “II Mostra de Extensão da FCM e visita ao assentamento Milton Santos” produzido por Marcelo Oliveira/ARPI da  FCM:

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