Resistência antimicrobiana e seu enfrentamento estiveram em pauta nos Fóruns Permanentes da Unicamp

Texto: Fernando Barbosa e Gabriela Villen I Fotos: José Irani

“O tratamento pós-infecção não deve ser a solução. Temos que prevenir e temos como prevenir”, afirmou a infectologista Fernanda Lessa, durante o Fórum Permanente “Resistência antimicrobiana: integrando ações como estratégia de enfrentamento”. O evento reuniu, na última quinta-feira (9), especialistas de diversos setores da área de Saúde, no Centro de Convenções da Unicamp. A constatação de que houve aumento significativo da resistência de microorganismos a medicações norteou as discussões, que apontaram para necessidade de ações preventivas como forma principal de combate.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho, prestigiou o evento e ressaltou a importância dessa discussão feita no Fórum. “Daqui saem soluções. É muito feliz esse evento tratar desse tema e com um grupo tão qualificado. Que sigamos a partir dessas discussões influenciando as tomadas de decisões necessárias”, declarou Coelho. Os Fóruns Permanentes da Unicamp, que completam 20 anos, são realizados pela Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proec). Eles visam promover a aproximação entre o pensamento acadêmico e a comunidade.

Essa edição do Fórum contou com 4 mesas de debates sobre: “Resistência Antimicrobiana: um problema global e a necessidade de ampliarmos as ações”, trazido pela médica infectologista Fernanda Lessa, responsável pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/EUA), “Panorama nacional da resistência antimicrobiana e programa nacional de gerenciamento de antimicrobianos”, com a enfermeira Mara Rúbia Santos Gonçalves (GVIMS/GGTES/ANVISA), especialista em Gestão e Docência do Ensino Superior, “O que há de novo sobre os mecanismos de resistência bacteriana no pós-COVID-19, e o impacto das vacinas”, pelo professor Marcelo Brocchi (IB/UNICAMP) e “Abordagem One Health para enfrentamento da resistência antimicrobiana”, pela professora Maria Clara Padoveze, livre-docente do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP).

Fernanda Lessa mostrou um panorama de levantamentos feitos pelo CDV-EUA, em 2019, com 700 mil mortes no mundo em decorrência de ações microbianas, sendo 90 mil delas na América Latina. Lessa ressaltou que dados apontam que 5 em cada 6 tipos de microrganismos serem detectados em ambientes hospitalares. Há, contudo, um elevado número de contaminados oriundos de outros ambientes. Segundo ela, as condições sociais, como falta de água limpa e ambiente saudáveis, elevam as contaminações. A situação foi agravada também após a COVID, com o aumento das hospitalizações, número reduzido de equipes e equipamentos. Lessa ressaltou a importância de ações preventivas para alterar positivamente esse quadro de resistência antimicrobiana.

Mara Rúbia Gonçalves trouxe ao evento dados do programa de combate microbiano da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que, segundo ela, está impondo responsabilidades federais e estaduais, com base nos protocolos internacionais. Segundo ela, 41% dos hospitais já aderiram a esse plano, mas entre os maiores desafios está o engajamento da alta direção dessas entidades. “Nosso objetivo é avaliar os panoramas existentes e implementar programas necessários”, afirmou.

O Fórum contou, ainda, com quatro mesas que olharam para aspectos específicos de cada atuação profissional no programa de gerenciamento de antimicrobiano: médicos, enfermeiros, farmacêuticos e microbiologistas.

Marcelo Brochi, mestre e doutor em Genética e Biologia Molecular do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, discursou sobre a importância da vacina como elemento de prevenção a infecções. Ele apontou um cenário que também confirma a necessidade de ações de saneamento básico e vacinas, entre outras medidas, mas se mostra otimista com um futuro de desenvolvimento nessa área. “Vivemos em um momento importante e acredito que teremos num futuro próximo de vacinas para controlar as bactérias multirresistentes”, afirmou.

O conceito de One Heath, de ações integradas e unificadas na saúde, foi trazido pela professora de enfermagem Maria Clara Padoveze. Surgido em 2008, o conceito está atualmente nas propostas da Organização Mundial de Saúde (OMS). “Se não resolvermos o problema da resistência microbiana colocaremos a perder todos os ganhos que já foram alcançados para a saúde da humanidade”, disse Padovese. Ela chamou atenção para os riscos da utilização de hipoclorito nas redes de esgoto, adotado após a pandemia, que estaria eliminando cepas sensíveis e deixando só as resistentes.

O universo agrícola e veterinário foram abordados pelas mesas ao final do dia: “A relação entre a resistência antimicrobiana e a agricultura. O uso racional de antibióticos na agricultura e a busca do desenvolvimento Sustentável”, com a professora Susanne Rath (IQ/UNICAMP); e “Fungicidas na agricultura e resistência dos atuais antifúngicos disponíveis para uso clínico”, com a professora Angélica Zaninelli Schreiber (FCM/UNICAMP), apontando a problemática também causada na medicação animal e uso de agrotóxicos.

Os Fóruns Permanentes da Unicamp mantém uma agenda anual de debates selecionados. A programação completa e demais informações podem ser acessadas no site: https://www.proec.unicamp.br/foruns-permanentes/

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