Texto: Fernando Barbosa e Gabriela Villen
É inconcebível pensar em como nos alimentaremos no futuro, sem entendermos como não conseguimos nos alimentar no presente. Esse foi o posicionamento do geógrafo José Raimundo Sousa Ribeiro Júnior, da Universidade Federal do ABC (UFABC), durante o Fórum Permanente “Semana Mundial da Alimentação”. O evento aconteceu nos dias 5 e 10 de outubro, de forma online, no canal Fóruns Permanentes no YouTube, organizado pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. O Fórum abordou contradições como o fato de o Brasil ser, ao mesmo tempo, o 4º maior produtor de alimentos do mundo, estar no topo do ranking do desperdício global e ter mais da metade (58,7%) da população convivendo com a insegurança alimentar em algum grau. Os Fóruns Permanentes da Unicamp são realizados pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) e visam promover a aproximação entre o pensamento acadêmico e a sociedade.
Na abertura do evento, o pró-reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho, ressaltou a importância do tema em um momento de urgência global em relação à alimentação. “É significante ver neste espaço temas que aproximam a Universidade com a comunidade. É um espaço fundamental para levantar soluções para políticas públicas”, considerou ele.
A antropóloga social Lis Furlani Blanco (Unicamp) apresentou um histórico sobre o agravamento da fome no país. “Olhar para os momentos de crises é fundamental para vermos nossos desafios futuros”, afirmou.
Da mesma forma, Ribeiro Júnior, destacou que a fome é uma questão estrutural, que envolve interesses e ganhos a parcelas da sociedade. “Submeter povos à fome é uma forma de inseri-los nas relações capitalistas, como vem acontecendo com ianomâmis, ribeirinhos, quilombolas, trabalhadores rurais, entre outros. Cria uma força de trabalho capitalista”, afirmou.
Para Adriana Salay, professora visitante FEA e líder do projeto “Quebrada Alimentada”, a visão da fome não pode ser superficial. Segundo ela, o Brasil apresenta quadros de incidência de fome na população mesmo em pleno “milagre econômico”, na década de 1970. A fim de minimizar os impactos atuais da fome, Salay propõe a criação de estruturas como o projeto “Quebrada Alimentar”, que comanda na capital paulista. O projeto é um modelo de cozinha que compartilha a produção tradicional feita em um restaurante com confecção de marmitas para famílias necessitadas. Em 3 anos, o “Quebrada Alimentar” já consegue atender 500 casas cadastradas por dia e prevê expansão para outras unidades. “É um potencial organizador, aglutinador e que pode também se associar a outros, como o de saúde pública”, explicou ela.
Cinthia Baú Betim Cazarin, designer de produção e docente da FEA, destacou a importância da educação no combate à fome. “Não é só garantir comida no prato, produção de alimento e acesso à comida. O ponto crucial é a promoção de educação de base, que acaba ficando abandonada”, pontuou.
Os debates abordaram ainda temas como “Transformações da fome no Brasil contemporâneo: um olhar a partir da trajetória do programa Fome Zero”, “Quem Lucra com a Fome?”, “Cozinhas coletivas e o combate à fome”, “Políticas Públicas de Segurança Alimentar”, “Indústria de Alimentos – Ciência, Saúde e Segurança na Mesa dos Consumidores”, “Alimentos do Futuro – Sistemas de Produção de Alimentos Saudáveis e Sustentáveis”, “Produtos Alimentícios à base de Plantas – Experiência de Sabores Inovadores” e “Cultivo de ingredientes: oportunidades e verdades”. A gravação será disponibilizada na íntegra no canal Fóruns Permanentes no YouTube.
A programação completa dos Fóruns Permanentes pode ser encontrada na página https://www.proec.unicamp.br/foruns-permanentes.