Livro do fotógrafo Edgar Kanaykõ Xakriabá é lançado na Casa do Lago

Texto: Gabriela Villen

“Esse trabalho é uma possibilidade de revelar outros mundos possíveis”, resumiu o fotógrafo Edgar Kanaykõ Xakriabá, no lançamento do seu livro “Hêmba”, na Casa do Lago da Unicamp, nesta terça-feira (5). “A partir da imagem e da fotografia, eu acho que o mundo pode aprender um pouco mais sobre nós enquanto povo, nós enquanto Xakriabá, e sobre os conhecimentos dos povos indígenas, de como pensa essa relação entre humano e não-humano, entre natureza e cultura”, explicou.

“Hêmba”, que significa “alma e espírito” na língua Akwe, reúne uma seleção de fotos de Edgar Kanaykõ Xakriabá, permeadas por textos reflexivos do autor. Em suas fotos as fronteiras entre o céu e a terra, a natureza e o humano, a exposição e o ocultamento, são colocadas em cheque. “Eu não fotografo paisagem, mas a minha morada”, afirmou Edgar. Segundo o autor, os textos que compõem o volume trazem um pouco da sua pesquisa e suas reflexões sobre o que é a imagem, a fotografia e seus múltiplos significados para os povos indígenas.

Para a editora do volume, Fabiana Bruno, docente do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, o principal desafio do projeto foi aprender a olhar as imagens, para poder selecioná-las e organizá-las no volume. “Selecionar essas fotografias implicava saber olhar e compreender essas fotografias. Elas têm uma grande multiplicidade de temas, de coisas fotografadas, que vão desde a luta política indígena até uma flor. Essas escalas, que a gente distingue, não estavam necessariamente separadas pelo Edgar. Era preciso mergulhar um pouco nesse olhar”, contou.

Segundo a professora, o projeto, que recebeu o apoio do Programa de Ação Cultural de São Paulo (ProAC) da Secretaria do Estado da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, partiu da necessidade de organizar e dar perenidade à produção fotográfica de autoria indígena. “Onde é que estão as produções dos fotógrafos e das fotógrafas indígenas e como fazer para entender e olhar para esses acervos? Comecei a fazer esse levantamento prévio e me dei conta de que essa produção existe, mas ela não está cartografada. Ela está bastante dispersa. Ela existe fundamentalmente no mundo do Instagram, das redes sociais, o mundo digital”, contou.

O Pró-reitor de Extensão e Cultura da Unicamp, Fernando Coelho, que compôs a mesa de abertura do evento, destacou a relevância do projeto e a satisfação pela presença do artista. “Sem dúvida nenhuma, um projeto dessa natureza, em que temos um artista talentoso na universidade, mostrando seu trabalho e discutindo com a comunidade esse trabalho, é motivo de grande orgulho para a Universidade de Campinas. É exatamente o que a gente gostaria, o que a gente quer: estar presente em todos os níveis, fazendo discussões, não só acadêmico, mas com todas as formas de criação, cultura, arte. Que a gente se junte um pouquinho e consiga compartilhar essa beleza”, afirmou.

“Precisamos ‘indigenizar’ o mundo”, brincou Edgar Xakriabá, conclamando a universidade também a pensar o mundo como os povos indígenas. “Acho que o mundo seria talvez um lugar um pouco melhor”. Pertencente à Aldeia de São João das Missões, em Minas Gerais, e mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Edgar ressalta a necessidade de ir além do descololiazismo. “Estamos na universidade ocupando um espaço que também é de luta, justamente para reforçar a luta daquilo que somos e daquilo que pretendemos ser enquanto povo”, pontuou.

Participaram do debate, as professoras Carolina Cantarino, coordenaora adjunta da Diratoria de Cultura (DCult) da Proec, e Alik Wunder, da Faculdade de Educação (FE). Além do lançamento do livro, Edgar participou de um evento no IFCH e ministrou uma oficina de fotografia.

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