Texto: Gabriela Villen I Foto: José Irani
Algoritmos são gerados a partir de dados coletados na sociedade. Uma sociedade desigual produz dados desiguais. Os algoritmos gerados por esses dados podem estar contribuindo para perpetuar essas desigualdades. Entender como as questões de gênero se fazem presentes nos dados e algoritmos, e quais os mecanismos disponíveis para limpá-los é o desafio proposto pelo próximo Fórum Permanente, que acontece nesta segunda-feira (30), a partir das 9 horas, no Centro de Convenções (CDC) da Unicamp. As inscrições podem ser realizadas no link.
Com o título “Mulheres invisíveis na Inteligência Artificial”, o evento será dividido em dois blocos. No período da manhã, as discussões estarão focadas na questão de gênero, em sua atualidade e implicações na ciência e no mercado de trabalho. As mesas contarão com a participação de Anna Christina Bentes, do PAGU (Núcleo de Estudos de Gênero da Unicamp), e Letícia de Oliveira, do Movimento Parent in Science da Universidade Federal Fluminense, entre outras pesquisadoras.
No período da tarde, o debate pretende apresentar as soluções já desenvolvidas, que podem minimizar os vieses impressos nos dados. Entre as debatedoras estão a jornalista Monique dos Anjos, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor); a cientista de dados, Júlia Tessler, do Jusbrasil; e Lívia Couto Ruback Rodrigues, professora da Faculdade de Tecnologia (FT). Confira a programação completa.
“Não queremos só limpar os nossos dados, mas entender quais são as soluções que podemos propor, enquanto Centro de Inteligência, para não propagar esse enviesamento em todos os dados que a gente gera e nos trabalhos que a gente faz”, explicou Priscila Coltri, coordenadora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (CEPAGRI) e uma das organizadores do Fórum.
Segundo a pesquisadora, a necessidade de debater o assunto surgiu no âmbito do Centro de Pesquisa Aplicada em Inteligência Artificial BI0S (Brazilian Institute of Data Science), promovido pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O BI0S trabalha em duas trilhas principais: uma com dados agrícolas e climáticos; a outra, com saúde pública. “Trabalhamos com os dados de cada uma dessas trilhas para gerar soluções e eficiência”, afirmou.
Além do BI0S e do CEPAGRI, estão envolvidos na organização o Fórum a Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação (FEEC), a Faculdade de Ciências Aplicadas(FCA) e o Instituto de Economia (IE).
De acordo com Coltri, a histórica desigualdade de gênero presente em nossa sociedade acaba gerando dados que invisibilizam as mulheres. Assim, por exemplo, vagas para altos cargos são mais oferecidas, pelos algoritmos, aos homens, do que às mulheres. “O viés de gênero está na fonte, nos dados que geram os algoritmos. E acabam por perpetuar esse viés”, explicou.
“Temos uma discussão muito intensa sobre a vulnerabilidade feminina frente às mudanças do clima, principalmente nas áreas agrícolas Mas, a maioria dos dados que chegam são do ‘agricultor’, eles inviabilizam a mulher já na fonte”, ressaltou.
Os Fóruns Permanentes da Unicamp, que completam 20 anos, são realizados pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec). Eles visam promover a aproximação entre o pensamento acadêmico e a comunidade.