Os aspectos sociais que podem afetar a saúde das mulheres foram debatidos no Fórum Permanente da Unicamp.

Texto: Fernando Barbosa

O racismo, migrações forçadas, situação dos povos originários, o capacitismo, a identidade de gênero, privação de liberdade, estão entre os aspectos que além de causar vulnerabilidade afetam diretamente na saúde da população e em especial a das mulheres como grupo que está entre os mais atingidos. Essa foi a abordagem trazida pelo Fórum Permanente “Determinantes Sociais na Saúde da Mulher”, promovido pelo Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM / UNICAMP), dia 09 de outubro no Centro de Convenções.
A edição contou com as mesas temáticas: “Interseccionalidade e saúde da mulher” , comandada pela professora e socióloga Maria José Osis (Departamento de Saúde Coletiva – Faculdade de Medicina de Jundiaí), professora. Natividad Guerrero Borrego |Psicóloga (Centro de estúdios de Juventud/Cuba) , “Mulheres e Ancestralidade: histórias, práticas e saberes de cuidado”, com Elizangela Baré (Cientista social, Departamento de Mulheres da Federação das OrganizaçõesIndígenas do Rio Negro e USP) e a enfermeira Leila Rocha (FCM/UNICAMP). O período da tarde contou com as mesas “Olhares sobre o cuidado diverso de mulheres migrantes”, com a médica Mehrsa Jalalizade (WDC -Los Angeles- EUA), a terapeuta sexual Karine Schluter ( FCM/UNICAMP), Amélia Flor |Médica, (Consultório de Rua de Campinas), Débora Ramalho Santos |( FENF/UNICAMP) e Amanda Dantas-Silva (FCM/UNICAMP), finalizado com “Saúde mental das mulheres: do que sofremos no Brasil contemporâneo”, trazido pela Professora. Rosana Onocko (FCM/UNICAMP e Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO).
A Professoraa e médica Fernanda Garanhani de Castro Surita (FCM/UNICAMP), uma das organizadoras do evento ressaltou na abertura do evento, que a iniciativa de trazer esse tema para debate foi resultado dos trabalhos feitos no atendimento a população e que trouxe a conclusão de que apesar de todo o esforço para levar cuidados para as mulheres assistidas, os agravamentos constatados são em decorrência das determinantes sociais. “Mesmo com a saúde reprodutiva e hábitos saudáveis não se distribuem equitativamente para todas as pessoas e a gente precisa olhar além disso, olhar para as determinantes sociais com o mesmo cuidado para todas as pessoas”, disse ela.

Maria José Osis considera que é necessário um envolvimento ainda maior dos profissionais dessa área para que se avance nas questões fundamentais que afetam a saúde das mulheres. “ Nós como pesquisadores e profissionais da saúde devemos analisar temas políticas públicas e lutar por aquelas que vão trabalhar pela saúde das mulheres”, considera a socióloga.
Natividad Borrego resumiu as questões referentes a Interseccionalidade e saúde da mulher como sendo referente a uma parte importante da população mundial e que envolve a luta pela igualdade de gênero. Para ela, as consequências verificadas nos aspectos que atingem a saúde da mulher são resultado da resistência que a vida impõe a essa parcela da sociedade. “São filhas, mães, avós, brancas, negras, trabalhadoras em espaços públicos e com posições secundárias”, situa ela.

A cientista social Elizangela Baré trouxe para o debate os aspectos da ancestralidadedos povos indígenas e a visão de importância da mulher compartilhada por essa cultura.
“ Nós mulheres temos algo em comum, não importa se é pobre, rica, negra, branca, indígena; nascemos por uma única via e nós mulheres somos o útero dessa vida”, disse a representante da aldeia Baré defendendo os cuidados necessários para com as mulheres. A enfermeira Leila Rocha, também trouxe sua constribuição da ancestralidade dos povos negros e lembrar que o saber ancestral é ferramenta que se contrapõe ao avanço das tecnologias. “a gente pode sim, cuidar da nossa saúde como nossas mães e avós cuidavam” contextua a profissional da FCM.
A médica iraniana Mehrsa Jalalizade, trouxe para o segundo período dos debates os aspectos em relação às mulheres migrantes e suas experiências em hospital na fronteira com o Afeganistão. Ela mostrou dados estatísticos que apontam para pouco mais de 20% dos imigrantes com proteção social e 27% das mulheres do afegasnitão deixaram o país em decorrência de violência doméstica e também apontou problemas no acolhimento das mulheres imigrantes que possuem culturas diferentes de sexualidade e de serem atendidas por médicos do sexo masculino.
Já a médica e terapeuta sexual Karine Schluter participou do fórum trazendo reflexões sobre os cuidados com as pessoas LGBTQI+ e a diversidade múltipla que se apresenta neste universo de identidades e gêneros. “ Precisamos acolher a todos no âmbito de nossa pratica”, recomenda Schluter. “Elas não podem ser estigmatizadas nem excluídas de cuidados por causa disso”, completou ela. A médica do consultório de rua de Campinas, Amélia Flor apontou dados que mostram a piora dos quadros de saúde dessa população que aponta até antes de 2012 como invisibilizada nos números e nas suas demandas. “Não vamos apenas a eles para oferecer cuidados médicos, mas também redução de danos”, comentou.
Para a enfermeira Débora Ramalho Santos, que é cadeirante, trouxe os aspectos dos deficientes ao debate sobre as determinantes sociais. Ela apresentou um Guia de Acessibilidade criado na Unicamp para comportamento com pessoas que apresentem deficiências em relação ao seu meio social. “Uma pessoa que tem um corpo não normativo quando entra em interação com tudo que foi criado para corpos normativos encontra uma barreira e só a partir dessa interação com os obstáculos é que é considerada deficiente”, explicou a profissional de Saúde .
Os cuidados com as mulheres da população carcerária foi apresentado pela médica Amanda Dantas Silva, citando maioria das mulheres sendo negras e pardas, com baixa escolaridade, que exerciam emprego informal e 81% com filhos e as deficiências no atendimento médico para essa contingente com carência de recursos fisícos e humanos.
“Precisamos pensar que todos os modelos prisionais foram baseados em sistemas masculinos e precisamos de modelos femininos para assistência dessas mulheres e melhorar os resultados da saúde delas”, aponta Dantas Silva.
A saúde mental das mulheres encerrou as rodadas de debate deste fórum. Para Rosana Onocko , a pressão sobre as mulheres para desempenho e competitividade aceleram os processos relativos à saúde mental. Ela apresentou dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que apontam 1 de cada 5 mulheres com aspectos de transtornos mentais, sobrecarga de trabalho, racismo , 30% sofrem violência e que se casam muito cedo, abandonam a escola e iniciam sexo forçado, além do que chama de medicalização do sofrimento, quando mulheres reclamam dos efeitos dessas exposições e são atendidas com anti-depressivos e outros remédios para contornar a situação O Fórum Permanente é um projeto vinculado da Pró Reitoria de Extenção e Cultura (Proec) que completa 20 anos de atividades até 2023. A programação vigente e arquivos dos debates realizados podem ser consultados no site https://www.proec.unicamp.br/foruns-permanentes/.

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