Robôs que escrevem em tempos de desinformação é tema de debate dos Fóruns Permanentes

Texto: Maria Luiza Robles Arias e Gabriela Villen

 

Os Fóruns Permanentes da Unicamp receberam, na última terça-feira (24), o debate sobre “Robôs que escrevem em tempos de desinformação: os impactos no jornalismo e na educação”. O evento envolveu em sua organização o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Os Fóruns Permanentes da Unicamp são realizados pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) há 20 anos e visam promover a aproximação entre o pensamento acadêmico e a comunidade.

 

O Fórum teve como objetivo discutir os impactos da inteligência artificial na produção de conteúdo educativo, jornalístico ou de divulgação científica. “Esse Fórum é fundamental porque nós estamos vivendo um momento de transição. As Inteligências Artificiais (IA) existem há mais de 20 anos, mas elas nunca estiveram tão presentes nas nossas vidas como elas estão agora, principalmente depois da criação do Chat GPT”, afirmou Graça Caldas, pesquisadora do Labjor e uma das organizadoras do evento. “Nós temos uma sociedade que lê pouco, que lê muito mal. Por isso, estudar e debater esse tema é importante”, acrescentou. 

 

O coordenador de Extensão da Diretoria de Extensão da Unicamp, Luis Geraldo Meloni, esteve presente representando o pró-reitor de Extensão, Fernando Coelho. Ele ressaltou a importância do tema. “Sem dúvida, toda nova tecnologia quando chega gera preocupações sobre seus impactos. Por isso, eu espero que esse Fórum seja apenas um de vários outros com o mesmo tema porque a gente precisa continuar a discutir e analisar esses impactos”, comentou.

 

Fabiano Ormaneze, pesquisador do Labjor e também organizador do Fórum, expressou sua alegria em realizar o evento. “É motivo de muita alegria esse encontro, sobretudo pelo motivo de que estamos em um período em que tanto falamos de tecnologias e evoluções tecnológicas, em que elas parecem resolver todos os problemas. Nós estamos aqui para discutir o que há de humano a ser refletido nessa perspectiva”, contou Ormaneze. 

 

Fake news e deep fakes: pós-Inteligência Artificial Generativa

 

Após a abertura do evento, a professora titular e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Lucia Santaella, apresentou uma conferência intitulada “Fake news e deep fakes: pós-Inteligência Artificial Generativa”. Santaella mostrou como passamos de processos elaborados de produção de notícias falsas para criação de fake news em apenas alguns cliques. “Antigamente a gente tinha uma certa dificuldade de produzir uma deep fake. Levava muito tempo e a pessoa precisava aprender a usar ferramentas complexas e muitas vezes de difícil acesso. Hoje em dia, com apenas um comando, a gente tem uma deep fake capaz de manipular centenas de pessoas”, contou Santaella. 

 

A professora acrescentou, ainda, que essa produção de fake news e deep fakes são sempre enviesadas e com objetivo enganar a população. Em especial no cenário político, quando essas ferramentas são usadas para persuadir as pessoas a serem a favor de determinados políticos ou atitudes. “Não existem limites na produção dessa arte do convencimento chamada fake news”, revelou. 

 

Ao final da exposição, quando Santaella foi questionada sobre qual caminho devemos seguir para mudar esse cenário de desinformação, a professora respondeu com apenas uma palavra: educação. “Educar a população para que saiba diferenciar o que é verdade e o que não é. E quando digo educação, não me refiro somente à escola, mas também a educar fora dela, para quem não a frequenta mais. A gente tem que encontrar formas de contrabalançar, formas de minimizar o poder da mentira”, afirmou. 

 

Graça reforçou a resposta de Santaella ao defender que é necessário que a população saiba como usar as IAs de forma benéfica. “Nós [seres humanos] temos um cérebro que constrói informação através de associações, a IA generativa não faz isso. Ela apenas reúne as informações que nós disponibilizamos online. Por isso, acredito que devemos sim usar, se necessário, um Chat GPT da vida, mas devemos sempre checar e avaliar essas informações para que nós, humanos, estejamos sempre presentes”,  acrescentou Graça. 

 

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